O SERTÃO DE MANDUCAIA

 

O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO PERMANENTE

 

1 – A capela primitiva e Geraldo Dutra de Moraes

 

Desde tempos imemoriais o direito português admitia uma figura jurídica denominada “capela”, ou seja, a constituição de um patrimônio imobiliário destinado à subsistência de um pequeno templo. Se tal acervo fosse constituído de terras de cultura o rendimento da produção agrícola pertenceria ao administrador da capela, que, depois de retirar uma parte para si, aplica o restante na conservação do templo e nas despesas do culto (Pereira e Souza, Diccionario Theorético).

Muitas vezes, porém, a capela era dotada de um “rocío” (ou rossío, como aparece grafado no texto amparense), isto é, de um espaço aberto, de uso comum dos moradores, servindo como praça e até como pasto comunitário. O instituidor da capela, aquele que doou o patrimônio dela e a edificou, vendia lotes ao redor do rocio para quem ali desejasse residir.

Grande parte das cidades brasileiras tiveram origem nessas modestas capelinhas, construídas à margem de rios ou nas encruzilhadas das estradas.

O encontro das duas frentes de avanço da agricultura, bragantinos pelo sul, mogianos pelo noroeste, iria exigir uma que se criasse uma povoação no vale do Camanducaia, para propiciar um mínimo de serviços (comerciantes, ferreiros, alfaiates, sapateiros, etc.) aos lavradores. Ora, uma povoação, no mundo português, começava sempre com um templo…

Amparo não foi diferente. Uma pequena capela foi construída, provavelmente no início do século XIX, nas margens do rio Camanducaia, junto à estrada que vinha de Atibaia e seguia para Mogi-Mirim, por volta de 1818, segundo narrou o Professor Geraldo Dutra de Moraes em artigo publicado há muitos anos em “O Comércio” (não temos no momento o texto do Professor Dutra de Moraes, pelo que estamos recorrendo à nossa memória, alternativa sempre perigosa… mas presumimos que seja o mesmo que foi publicado também na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, 74:97/105).

Teria sido edificada por iniciativa do Padre Francisco Figueira, missionário que por aqui passou, mas foi danificada por sucessivas inundações. Isso levou as autoridades eclesiásticas a ordenar a transferência da capela para um local mais seco e seguro. Foi nessa ocasião que João Bueno da Cunha, filho do pioneiro Manuel de Miranda Antunes, doou o terreno para a construção de outra, no lugar onde se erige hoje a nossa majestosa catedral, “no plateau da colina adjacente, coberto de árvores frondosas, em terreno de 50 braças de testada” (Geraldo Dutra de Moraes, in RIHG/SP, 74:98).

……………………………………………………..

 

Um dos enigmas da história amparense que desafiou a argúcia e os esforços do saudoso Dr. Áureo de Almeida Camargo foi a existência desse padre conhecido apenas por F. Figueira, que teria rezado a primeira missa em Amparo. É tão importante para nós quanto Frei Henrique de Coimbra, sacerdote da frota de Cabral que celebrou a primeira missa em terras brasileiras, é para a História do Brasil. O Dr. Áureo também menciona um outro padre, Elias Rodrigues Moreira, ligado à Capela do Amparo por Azevedo Marques.

Em “Romagem pelo Pátio”, mostrando o quanto pesquisou sobre isso, Dr. Áureo informa textualmente:-

          “Deve-se a Manuel Eufrásio de Azevedo Marques, “Apontamentos Históricos da Província de S.Paulo”, a referência ao Pe. F. Figueira, que teria rezado a primeira missa em terras do Amparo  na capela erigida pelos primitivos povoadores”.

          “Não obtivemos dados sobre esse sacerdote, e na alentada obra de Mons. Paulo Florêncio da Silveira Camargo só existe o registro – Figueira – relativamente a padres outros, José Domingos e José Gonçalves”

          “Acontece que os documentos da época mencionam o nome do Pe. F. Figueira em março de 1829, como “Capelão Particular desta Capela”, não constando dos mesmos referência alguma ao Pe. Elias Rodrigues Moreira”.

“Quem teria realmente oficiado pela primeira vez na Capela amparense?”…

          Com relação ao padre Elias Rodrigues Moreira já  publicamos uma crônica, “O discutido Padre Elias”, mostrando, com base em documentos da nossa Cúria Diocesana que este era coadjutor em Bragança Paulista e que oficiou o primeiro batismo realizado em Amparo em 20 de abril de 1829.

Mas a documentação da Cúria ainda nos reservava outras surpresas. Há pouco tempo, examinando às pressas o mais antigo livro de casamento de Mogi Mirim que ainda resta, o qual cobre o período de 1820 a 1856, encontramos duas novidades:-

1.a – Uma série de assentos, a fls. 102 e seguintes, com o título “Assentos dos Casamentos feitos na Capella de Nossa Senhora do Rosario de Serra Negra”, menciona a existência

de um “capelão curado”, o Padre Antônio Gonçalves do Prado, nessa vizinha cidade, em 1826, dois anos antes da ereção oficial da capela curada de Serra Negra.

2.a – Os assentos eram lavrados pelo coadjutor de Mogi Mirim, Padre Francisco Figueira de Assunção! Estava aí o nosso misterioso “Padre F. Figueira”, que teria celebrado a                primeira missa em Amparo! Não só existia, como era realmente ligado à nossa região.

O sobrenome “Assunção” havia impedido que Dr. Áureo tivesse sucesso na sua busca na obra de Mons. Paulo Florêncio, “A Igreja na História de São Paulo”. Pois ali o Padre Figueira consta com seu nome completo no volume VI em “Assunção, Pe. Francisco Figueira”…

Monsenhor Paulo Florêncio esclarece nesse mesmo volume que Francisco Figueira de Assunção era “clérigo in minoribus” em 1821, quando assinou a ata de instalação do governo provisório de S.Paulo. Igualmente, consta do mesmo tomo que Francisco Figueira de Assunção foi ordenado em 30 de novembro de 1822.

Não há mais porque duvidar da informação de Manuel Eufrásio de Azevedo Marques. Deve ter sido mesmo o Padre Figueira quem celebrou a primeira missa na Capela Curada de Amparo. Fica, assim, desfeito o enigma que desafiou nosso velho amigo Dr. Áureo de Almeida Camargo.

 

……………………………………………………..

 

Quem doou o terreno e construiu a primitiva capela na margem do Camanducaia?

A resposta talvez esteja no artigo do Professor Dutra de Moraes (nossa lembrança desse texto não nos socorre totalmente) ou no Departamento de Arquivo do Estado de São Paulo, mas, por enquanto, é para nós um mistério.

Tinha havido nos anos antecedentes uma grande migração bragantina e atibaiense para as margens do Camanducaia, incluindo também moradores de Nazaré. Quando? Difícil de precisar; antes de 1818 certamente, mas depois de 1800. Qual desses pioneiros seria o generoso doador?

Entretanto, o “Tombamento de 1818”, um documento constante do arquivo do Dr. Áureo de Almeida Camargo, pode fornecer algumas pistas e indicar alguns nomes. O Dr. Áureo de Almeida Camargo, sempre lembrado com carinho por todos nós, obteve no Arquivo do Estado o “Tombamento de 1818 da L.ª Companhia da Vila Nova de Bragança e seus bairros”. Trata-se de um recenseamento para fins militares e tributários feito pelo governo da Capitania de São Paulo. O levantamento foi feito pelo Capitão Roque de Sousa de Moraes, capitão comandante daquela companhia de ordenanças.

Esse documento (não dá para gastar adjetivos com ele, tão importante ele é…) contém uma lista dos moradores de terras amparenses no citado ano, inclusive aqueles que residiam ou eram proprietários no vilarejo nascente (que o autor do texto chama de “vila”…). Os moradores estão agrupados conforme o bairro ou lugar onde moram ou onde tem propriedades.

Uma série de topônimos mencionados nesse rol de moradores permite distinguir os vários núcleos de povoamento existentes em terras amparenses:

-“Bairro nominado Camanducaia”;

-Córrego Vermelho;

-Vargem Grande;

-Araras (provavelmente próximo à Vargem Grande);

-Boa Vereda;

-Rocío da vila (sic – trata-se da Praça Jorge Pires de Godoy, antigo Largo da Cadeia Velha, onde ficava a primitiva capela e não da Praça Monsenhor João Batista Lisboa, pois a nova capelinha certamente ainda não havia sido edificada);

-Terras de Nossa Senhora (certamente terrenos pertencentes à primitiva capela);

-“Campos Realengos” (vizinhos do “rocío da vila” – provavelmente eram pastos comuns a todos os moradores).             Todos os nomes mencionados são de interesse para a História de Amparo, mas os moradores e proprietários listados no “rossio da vila” tem uma importância particular porque são os primeiros habitantes da cidade e podem ser considerados    seus fundadores. Um deles teria sido o instituidor da primitiva capela às margens do Camanducaia?

Uma lista dos moradores do “rocio da vila” e do “bairro da vila” pode ser feita de imediato:

1 – Francisco Pinto de Siqueira, possuidor de 300 braças de frente por 200 de fundo, terreno esse cultivado, adquirido do Ajudante Antônio Gomes. Tinha 3 escravos.

2 – Domingos da Silva Mina, possuidor de um pequeno terreno de 30 braças de frente por 5 de fundo, cultivado, adquirido por “carta de data” (concessão da Câmara de Bragança). Parece pelo nome ser um africano forro.

3 – Antônio Pinto Nunes, dono de 40 braças de frente por 50 de fundo, terreno cultivado, adquirido de Francisco Pinto. Tinha dois escravos.

4 – Clara de Azevedo, dona de 50 braças de frente por 150 de fundo, terra cultivada, adquirida por carta de data.

5 – Maria Dionísia, possuidora de 10 braças de frente por 50 de fundo, terra cultivada, adquirida de Salvador Bueno de Menezes.

6 – Inácio Ferreira Neves, dono de 100 braças de frente por 40 de fundo, terra cultivada, comprada do Sargento-mor Jerônimo Gonçalves Pereira. Tinha 2 escravos.

7 – Joaquim Nunes de Siqueira, dono de 15 braças de frente por 60 de fundo, terra cultivada, adquirida por posse.

8 – Luís Gonzaga de Morais, dono de 50 braças de frente por 60 de fundo, terra cultivada, adquirida por compra a Francisco Pinto.

9 – Jerônimo Gomes, possuidor de 40 braças de frente por 50 de fundo, terra cultivada, comprada de Joaquim Manuel Floriano. Tinha um escravo.

10 – Balduíno Antônio de Campos, possuidor de 750 braças de frente por 750 de fundo no “bairro da vila”, terra cultivada, onde mantinha 17 escravos. Essa propriedade fora adquirida por título de sesmaria.

11 – Joaquim Manuel Floriano, dono de 100 braças de frente por 120 de fundo, terreno cultivado, adquirido por herança de sua sogra.

……………………………………………………..

 

Evidentemente, o maior “suspeito” de ser o instituidor da capela e primitivo dono das terras onde se instalou a cidade é Balduíno Antônio de Campos, ligado a gente de Mogi-Mirim, e dono de uma sesmaria “no bairro da vila”. Ora, as sesmarias eram propriedades de grande extensão, medidas em léguas, concedidas pelo governo colonial; ficavam à beira das estradas (que tinham a obrigação de conservar), geralmente na margem de rios.

A sesmaria de Balduíno Antônio de Campos, pois, deveria abranger provavelmente a maior parte da área onde hoje se situa a cidade de Amparo. Era claramente um homem rico que possuía 17 escravos na sua sesmaria, um número bastante elevado para uma época em que o café ainda não tinha espantado a pobreza na nossa região.

Entretanto, o fato de ser o primitivo dono das terras não significa necessariamente que tenha sido ele o instituidor da capela ou o primitivo proprietário da área onde se instituiu o “rocio da vila”. Ao contrário, nenhum dos possuidores de terras no rocío as adquiriu de Balduíno.

Apesar de nossas buscas, a princípio nada encontramos sobre Balduíno, excepto o que consta da Genealogia de Silva Leme, 3:521, onde se informa que Balduíno foi o segundo marido de Rita Ana Vieira, a qual casara em primeiras núpcias com Francisco Borges de Almeida e falecera em Bragança, deixando de Balduíno uma filha de nome Maria Jacinta. Era muito pouco o nosso conhecimento de quem teve tanta terra na cidade de Amparo.

Mais tarde, verificamos que o seu nome completo era Balduíno Antônio de Campos Rego e que fora vereador em Bragança em 1817. A partir dessa correção foi possível descobrir que o inventário dele, aberto em 1827, está arquivado no Museu da República em Itu. Mais ainda, na própria Genealogia Paulistana, 4:61, consta que ele era filho do Alferes Manuel Antônio de Campos Rego, de Itu, e de Ana Antunes de Castilho, de Mogi-Mirim, filha de João Corrêa de Miranda e de Juliana Antunes Cardoso. Balduíno casou a primeira vez em 1808 em Itu com Rita Ana Vieira, viúva de Francisco Borges de Almeida, e a segunda vez em 1824, também em Itu, com Cândida Xavier, filha do Alferes Francisco de Paula Aranha.

Se essa sesmaria for localizada no Arquivo do Estado de São Paulo será possível saber mais sobre as nebulosas origens do Amparo e sobre o ainda obscuro Balduíno.

 

……………………………………………………..

 

Há uma outra lista de moradores de Amparo, esta de 1815, constante do trabalho do Dr. Bernardino de Campos Júnior, intitulado “Amparo – Resumo Histórico”, publicado no vol. 40 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Nesse rol constam como moradores pioneiros Manuel de Miranda Antunes, seu filho João Bueno, Manuel Vaz Pinto, Manuel Antônio Pereira e Joaquim César, estes vindos de Bragança; João Domingues, Lino de Oliveira Cardoso e o Sargento de Ordenanças Francisco Xavier dos Passos, provenientes de Atibaia.

Uma versão um tanto estropiada dessa lista foi

publicada pelo Mons. Paulo Florêncio da da Silveira Camargo,in A Igreja na História de São Paulo, 5:316, na qual constam: João Bueno, Manuel Vaz Pinto, Manuel Antônio Pereira, vindos de Bragança, Francisco dos Passos, João e Lino Domingues, de Atibaia, e Antônio Joaquim de Almeida, de Nazaré.

Três dos pioneiros de 1815 mencionados por Bernardino de Campos não constam do rol de 1818: Manuel de Miranda Antunes, João Domingues e Lino de Oliveira Cardoso. Em compensação, Antônio Joaquim de Almeida, da lista de Monsenhor Silveira Camargo, está mencionado no rol de 1818.

Nenhum deles, porém, residia ou era proprietário no vilarejo nascente. Por isso, não parece razoável admitir que qualquer deles tenha sido o instituidor da primeira capela, a que se erigiu nas margens do Camanducaia.

O enigma do instituidor da primeira capela ainda nos desafia.

 

……………………………………………………..

 

Mas o novo templo, depois de completadas a capela-mor, sacristia e sineira, em 1825, começou a ser usado. Restava ainda edificar o corpo da igreja, os corredores laterais e o coro, além da fachada (Geraldo Dutra de Moraes, in RIHG/SP, 74:99). Um capelão provisório, o padre Elias Rodrigues Moreira, foi contratado para a função.

Mas o padre Figueira continuava por perto…

Um padre José Figueira (provavelmente um lapso por Francisco  Figueira) batizou em 16/1/1824, na Capela do Amparo a Gertrudes, filha de José Joaquim de Moraes e sua mulher Rosa Antônia de Jesus, o mais antigo batizado de Amparo encontrado até agora, pois os anteriores encontrados eram celebrados em Mogi-Mirim, sendo padrinhos Francisco Mariano de Matos e sua mulher Gertrudes Maria (BA-3:72v)

Aliá, o saudoso historiador amparense, Dr. Áureo de Almeida Camargo, em seu opúsculo “Romagens pelo Pátio”, p. 9, e notas 22 e 23, menciona o nome do Padre Elias Rodrigues Moreira, mas pouco informa sobre o ele.  Limita-se a uma nota de rodapé: “(22) Segundo A. Pompeo em sua obra Os Paulistas e a Igreja, S. Paulo, Revista dos Tribunais, 1929, 2 vols., pag. 86, n.o 723, o Pe. Elias “era filho do alferes Ângelo Roiz      de Oliveira e de Maria Francisca do Rosário, esta de Jacuhy e aquele de Jacarehy, nasceu nesta última cidade”.

E mais adiante, na mesma página, o Dr. Áureo transcreve um texto de Bernardino de Campos, publicado no Almanaque de Amparo para 1872, que, na nota 23, se esclarece ter sido publicado como adendo ao Almanaque de Campinas para 1872:

“Construído o primeiro templo, pequeno e modesto, foi nele colocada a imagem de Nossa Senhora do Amparo, que ficou sendo a Padroeira, e deu o nome ao lugar. Tinham também contratado um sacerdote para residir no lugar, o padre Elias Rodrigues Moreira”.

Não encontramos nas outras obras do Dr. Áureo qualquer referência adicional sobre o Padre Elias. Entretanto, ao transcrever alguns velhos e preciosos livros do arquivo diocesano de Amparo, encontramos alguns dados a mais sobre ele. Esses novos informes parecem importantes o suficiente para garantir ao Padre Elias pelo menos um modesto lugar na história eclesiástica do Amparo.

Pois, conforme consta do Livro 1 de Batizados, folha 1, foi ele quem celebrou o primeiro batismo na capela de Nossa Senhora do Amparo, aos 20 de abril de 1829. A criança batizada, que recebeu o nome emblemático de Adão, era filho de João e Maria, escravos de Francisco Xavier dos Passos, considerado um dos fundadores de Amparo. Entretanto, em 1831, o Padre Elias já residia em Bragança, pois em 7 de novembro desse ano batizou nessa cidade, com licença do capelão de Amparo, a José, filho João Francisco de Godoy e Maria de Oliveira, fregueses de Amparo, conforme assento de fls. 27 verso do mesmo livro.

Outra notícia importante consta do Livro de Casamentos n. 1 de Amparo, a fls. 41, em assento datado de 1835, na qual se esclarece que o Padre Elias era nesse ano, pelo menos, Coadjutor da Paróquia de Bragança.

Infelizmente, não encontramos na Genealogia Paulistana, de Silva Leme, nem o nome do Padre Elias, nem de sua mãe, mas apenas alguns homônimos de seu pai, Angelo Rodrigues de Oliveira, naturais de Mogi das Cruzes e não de Jacareí. É possível que haja um erro na identificação do local de nascimento de Ângelo Rodrigues de Oliveira, pois Mogi das

Cruzes e Jacareí são cidades próximas, mas os casamentos dos homônimos também não conferem.

Assim, resta-nos relembrar a figura desse sacerdote como um dos pioneiros da Igreja em Amparo, sem poder confirmar ou desmentir a informação de Bernardino de Campos, de que ele fora contratado pelo povo de Amparo para prestar assistência espiritual à cidade que começava a surgir.

 

……………………………………………………..

 

 

Um pouco da bruma que encobre as origens do Amparo começa a se dissipar.

Entretanto, ainda restam, além da identificação do instituidor da primeira capela, várias perguntas sem repostas… Houve um pouso de tropeiros na margem do Camanducaia, como sustentam alguns? Quais os limites da sesmaria de Balduíno Antônio de Campos e quando foi concedida?

Quem construiu a primeira ponte sobre o Camanducaia? Por que existem duas estradas paralelas, buscando uma Atibaia e outra Bragança, quando bastaria uma? E por que a Vargem Grande foi alcançada, povoada e cultivada tão cedo? Qual a razão que levou Felipe Pires de Ávila a se estabelecer num local tão estreito e inadequado para a agricultura como o vale do Jaguari na altura de Pedreira? (Aliás, também o surgimento de Serra Negra, episódio importante no povoamento da região, também é um enigma, pois os vales montanhosos e estreitos que tomam todo esse município vizinho não eram atraentes para os agricultores da época, embora hoje se saiba que se prestam maravilhosamente para o café…)

Outro aspecto interessante desse rol de moradores de 1818 é que muitos dos patriarcas amparenses, tidos como velhos moradores, não constam dele. Francisco de Silveira Franco, Pantaleão Pedroso da Cunha, João Pedro de Godoy Moreira, o alferes José Desidério Pinto e outros, não são nele referidos. Quando teriam chegado a terras amparenses?

Aliás, Silveira Franco parece ter sido incluído pela tradição entre os fundadores da cidade apenas pelo seu papel relevante na ereção da Capela Curada em 1829; sua sesmaria nem sequer pertencia ao território de Bragança, mas sim ao distrito da Capela de Serra Negra, esta subordinada a Mogi Mirim. Silveira Franco teria, segundo Bernardino de Campos, solicitado sua inclusão na área da Capela de Amparo, aumentando de muito sua extensão.

Por outro lado, muitos dos arrolados em 1818 não constam do rol feito em 1829 para se obter a elevação a “capela curada”. Por quê? Mudaram-se? Faleceram? Ou simplesmente escaparam ao minucioso levantamento do Padre Roque de Sousa Freire?

Também não é mencionado o patriarca pedreirense Felipe Pires de Ávila, mas este provavelmente porque residia fora dos limites do distrito da companhia de ordenança bragantina (ou já teria falecido em 1829). Em compensação é mencionado seu genro João Pedro de Godoy Moreira, pai do fundador de Pedreira.

Comments are closed.